quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Interditar Vias para proteger Vidas

Foto Lilian Massuqueto

As paredes rochosas onde escalamos, onde nos divertimos, nos conhecemos, enfim, que nos dão tanto prazer, abrigam uma diversificada fauna e flora, que muitas vezes não sabemos ou não prestamos atenção.

São bromélias, rainha do abismo, cactos, insetos, aves, répteis, etc...que enfeitam e diversificam nossas linda paredes.


Rainha do abismo


Bromélia e cactos despencando no meio da via


Lagarto na varanda de sua casa


A maioria destas espécies de flora e fauna habita estas paredes muito antes da abertura das vias de escalada. Algumas espécies de orquídeas e bromélias, levam décadas para atingir determinado tamanho. Aves constroem seus ninhos nas fendas e buracos, assim como abelhas, marimbondos, lagartos, e outros animais.


Ninho de beija flor no meio da via Olho Grande (2009) - S.Macarrão


Diante disso, é bom refletir sobre nossas responsabilidades, e reconhecer que nós escaladores também somos invasores. Invadimos ao escolher a rota da via, furar, martelar, colar, chapeletar, limpar, derrubar plantas, tirar enxames, afastar e incomodar aves, falar, gritar, magnesiar, quebrar....escalar!

Estou até me sentindo mal...

Mas escalar é tão bom né?


Opilião - Setor Macarrão Foto C. Margraf


Assim, para minimizar os impactos que causamos, "devemos" conservar o ambiente onde escalamos. Tentar impactar o mínimo possível, como:


* evitar fazer muito barulho

* levar sei lixo embora, inclusives bitucas de cigarro

* enterrar o lixo orgânico, inclusive o cocô e ph (por favor gente!!!)

* deixar tudo no lugar, inclusive o que existe no meio da parede


Fazer tua presença a menos notada possível!



E porque estou escrevendo tudo isso?

Porque somos responsáveis pela vida inocente nos locais onde escalamos!


Esta pomba faz ninho todo ano na parede do Favo - B.Padre


O SETOR MACARRÃO, localizado nas proximidades do Buraco do Padre, já relatado em outra postagem, muito freqüentado ultimamente, abriga rica fauna e flora. Já foram vistos em suas proximidades veados, antas, suçuarana, serpentes e vários tipos de aves, entre estas a CURUCACA.



Setor 2 - Macarrão

Curucaca nos galhos de uma Araucária


A Curucaca, também conhecida como Curicaca (Theristicus caudatus), é uma ave grande, com aproximadamente 43cm de altura e 1,5 kg, de coloração clara e asas largas. Quando voa exibe grande mancha branca sobre o lado superior da asa, ao contrário do lado inferior, inteiramente negro. É reconhecida por seus gritos fortes e curtos. Freqüentam os campos secos e queimados para se alimentar, por isso, os fazendeiros a protegem, pois assim ajuda a controlar as populações de insetos nocivos. Come gafanhotos, aranhas, centopéias, lagartixas, cobras e ratinhos do campo.



As Curucacas tem costumes monogâmicos, preferem fazer seus NINHOS no topo das araucárias ou lajes de rocha e põe cerca de 4 ovos, com incubação de até 25 dias, mas normalmente cria um filhote ao ano, que sai do ninho quando tem praticamente o tamanho dos pais, isso em torno de 2 meses.


Eis que uma destas aves ocupou um antigo ninho no meio de uma via no Setor 2 do Setor Macarrão, e está com 2 ovos. Escuta-se a Curucaca várias vezes ao dia, tentando se aproximar de seu ninho, principalmente no final da tarde.


Ninho na via Fenda do Teresa


Assim, para proteger o ninho, e futuros filhotes desta importante ave, que também é conhecida como “ave das Araucárias”, pedimos a colaboração de todos os escaladores para NÃO ESCALAR AS VIAS “FENDA DO TERESA” E “BURLANDO A LEI”, ATÉ QUE O FILHOTE SAIA DO NINHO, e se possível evitar escalar as vias próximas também. Além disso, procurar não fazer muito barulho, sair do local antes do pôr do sol, e não acampar. O Setor 1 ou da frente também tem ótimas vias e uma boa base para acampar, se necessário.


Essa decisão foi tomada em reunião do Grupo, logo, todos tem o dever de respeitá-la e o direito de pedir que seja cumprida. Nós e a Curucaca Mãe agrade!


Filhote de Curucaca


Escalador (a), invadimos o espaço dela sem pedir permissão. Não custa nada interditar estas vias por algum tempo. É o mínimo que podemos fazer!




CONTAMOS COM SUA COLABORAÇÃO!


Referências

SICK, H. Ornitologia brasileira. Vol. 1. Brasília: UNB, 1985.

LORENZETTO, A.; et al. Padrão de atividade diária em 2 ninhos de Curucaca no Parque Estadual de Vila Velha-PR. Resumo. XII Congresso Brasileiro de Ornitologia. Blumenau, 2004.

http://www.faunacps.cnpm.embrapa.br/ave/curicaca.html

http://inema.com.br/mat/idmat066856.htm