quinta-feira, 14 de março de 2013

Viajando por Portugal e Espanha


    O Jornal da Montanha chegou em sua 10ª edição (Dezembro/2012). Pra quem não conhece, é um jornal sério e de qualidade que traz informações e histórias sobre o mundo dos esportes na natureza, sendo distribuído em todo sul do Brasil. Já participei de algumas edições, e nesta, a qual compartilho com vocês, fala sobre nossa viagem a Portugal e Espanha. 
Pra quem desejar receber o JM contate: jornaldamontanha@cincotreze.com.br



Depois do Atlântico


                                                                                                                             Foto: MMassuqueto                                                                                                          

      Lisboa, terra de Camões e Fernando Pessoa, dizem ser a cidade mais bela de Portugal, pudera, o mar azul, a encosta rochosa, as ruelas estreitas, as fachadas azulejadas, o mosaico dos telhados, a arquitetura pombalina, neoclássica. O povo, o fado, as roupas secando nas janelas, os bondinhos elétricos amarelos, as feiras, o castelo da Quinta da Regaleira, a Boca do Inferno, o Cabo da Roca, as inúmeras praças, o Rio Tejo, o cheiro de peixe no ar, enfim, apreciamos anos de história em duas semanas. Junto com velhos amigos que vivem lá, escalamos num setor chamado Fenda, localizado no distrito de Setúbal. Rocha calcárea formando uma parede incrível, com vias de até 30m de altura, algumas chorreiras e buracos. Um lugar que permite depois de um dia quente de escalada, um banho de mar na linda praia do Portinho de Arrábida.



                                    Castelos em Lisboa 




                                                                                                                                         Boca do Inferno

                                                      Setor Fenda

     De Portugal seguimos para Espanha, rumo a Rodellar, o qual descobrimos estar situado exatamente sobre o meridiano de Greenwich. Alugamos uma furgoneta Ford Transit para nela morar e viajar, coisa muito comum por lá. Falar de Rodellar é muito difícil, pois faltam palavras para decifrar um lugar tão magnífico. Simplesmente é o paraíso dos escaladores. Rodellar tem mais de 40 setores de escalada, é via “pra mais de metro” (imagina, 40, 60m de via). Vias de todos os graus e estilos, principalmente “chorreiras”. Estas incrustações na parede calcárea, dão formas especiais ás vias, predominando agarras de bolota, pinça e entalamentos diversos. É uma escalada específica, bem atlética, de manhas, porém muito envolvente. Escalar em Rodellar é escalar a vista todos os dias e nunca repetir via, é cansar, suar e descer o barranco para tomar um banho rápido nas frias poças verdes; é escutar todas as línguas do mundo e conseguir entendê-las, já que a “vibe” é uma só. Quem não fica em furgonetas ou algo semelhante, há opções de campings, um hotel e o famoso refúgio Kalandraka. Há alguns bares e restaurantes (não deixe de provar a lasanha de legumes do Kalandraka!). Alguns locais abrem somente no verão europeu. Para aqueles que curtem caminhar, o Sendero de Otín e Las Virgens tem paisagens de encher os olhos, e oportunidade para conhecer a flora e fauna local.


Clássica Via Delphin

Ah Rodellar! - via Bis a Bis/Setor Delphin

    
Setor Pequeño Paraíso
 Pata Negra (8c fr)                                              Foto: MMassuqueto


                                                         
Setor Las Ventanas
                                Sendedo de Las Virgens - vias tradicionais


Depois de um mês neste paraíso, pegamos a estrada direto a Mallos de Riglos, situado a 60km de Rodellar, também na província de Huesca. Riglos é um lugar que impressiona pela beleza e imponência. São paredes enormes, que se erguem do nada, de formação tipo agulhas as quais chamam de mallos, constituído de rocha conglomerática, formada por seixos de todos os tamanhos, predominando vias longas, porém esportivas. A mais conhecida é a Fiesta de los Bícepes. Eu e Binho escalamos a via Mosquitos, também no Setor La Visera, 280 metros bem protegidos, mas de muita adrenalina, já que há muitos seixos soltos e alguns enormes, os quais somos obrigados a abraçar. Não escalamos mais devido ao calor insuportável (mês de agosto), pois o sol bate o dia todo na parede. Para ficar há um estacionamento, e um refúgio com bar e restaurante. À noite, a silhueta escura das paredes envolta as estrelas, é um espetáculo!

Mallos de Riglos

Via Mosquito

Fugindo um pouco do calor, seguimos rumo norte da Espanha, e estacionamos no pueblo de Bielsa, localizada nos Pirineus. Escalamos no setor de Las Devotas, calcáreo, chorreiras, porém bem quebradiço. Foi nesta região que realizamos a caminhada mais linda da viagem, Ibón de Marboré, localizado no Parque Nacional de Ordesa. Marboré é uma trilha de 10km com 1415m de desnível, que leva a base da mais alta montanha calcárea da Europa: o Monte Perdido, 3.355m. A caminhada é íngreme e dura, mas a paisagem faz esquecer qualquer dor nos joelhos. O Ibón, ou lago de Marboré está a 2593m de altitude, e em torno dele há restos de neve acumulada entre as rochas dobradas dos Pirineus. Paisagem inesquecível!



Inicio da "dura" trilha


mas sempre vale a pena!

Ibon (Lago) de Marbore

Monte Perdido




















Terradets foi nossa próxima parada, um lugar de paredes infinitas. Escalamos um pouco em Les Bruixes, um setor de vias duras onde predominam pinças feitas de estreitas chorreiras, pero, novamente o calor não permite desfrutar deste setor por muitas horas.

Mesmo com tanto calor, mas sem tempo a perder, seguimos para um famoso pueblo medieval incrustado nos abismos de rocha do Parque Natural de Montsant, estou falando de Siurana, o paraíso da escalada esportiva de dificuldade, onde predominam regletes, bidedos e monodedos, em paredes levemente inclinadas, e com proteções bem esticadas. Para todo lado que se olhe há escalada, e a abertura de vias não cessa. No pequeno vilarejo histórico, que hoje em dia vive do turismo e da produção de vinhos, há bares e restaurantes. Água é luxo, há apenas uma fonte, mas não é muito boa. Nos arredores de Siurana, há outros “pueblos”, como Cordunélia, onde tem campings e mais infra-estrutura. Margalef é outro mega setor vizinho de Siurana, o qual tentamos adentrar 3 vezes sem sucesso, já que estava interditado devido a risco de incêndio. Sendo assim, vamos “ter” que voltar um dia!


Parede Regina - Terradets

Escalada em Siurana

Siurana

Sem dedos, seguimos para Montserrat, lugar impressionante! Sabe aqueles bonecos redondinhos de neve? Imagine trilhões deles. Montserrat é um maçico montanhoso em rocha de conglomerado multicolorido, onde se encontra um monastério cristão.  Possui mais de 1500 vias, divididas em esportivas e clássicas de até 7 enfiadas. Para conhecer o local fizemos uma caminhada iniciando na Igreja Santa Cecília e finalizando no pico mais alto do maciço, o Sant Jeroni com 1236m. Escalamos uma via de 150m, tranqüila, e com visual dos deuses!











 E já que estamos na Catalunia, é um dever ir a Barcelona, a cidade mais global do planeta Terra. Dois dias em Barcelona foi muito pouco para tanto a se fazer. Mesmo assim, uma caminhada na Rambla, uma visita ao Parque de Güell - obra do famoso artista Gaudí, e uma olhadela na Sagrada Família, já foi de encher os olhos e o coração.


Vista do Parque de Güell - bem no fundo a esquerda a Sagrada Família

Arquitetura Gaudí - Parque de Güell

Apaixonados, volvemos aos Pirineus. Pela indicação de um amigo catalão, fomos para Cavallers, situado no Parque Nacional de Aiguestortes i Estany de Sant Maurici. E desta vez fez muito frio. Cavallers é uma imensa barragem, que também é muito frequentado por turistas. Há muitas caminhadas que levam a abrigos na montanha, e muitos setores de escalada, esportiva e tradicional. Desta vez, uma rocha diferente, um granito escuro e liso, mas com uma escalada “fina” como o nosso velho e conhecido granito.

 No charmoso pueblo de Torla, realizamos a trilha de Faja de Pelay, no Vale de Ordesa. Uma mágica caminhada, que leva a cachoeira de La Cola de Caballo, e volta pela trilha de mesmo nome, entre um vale em U de imensa beleza. Em Torla, dormimos em um dos vários campings que existe por lá. Há também muitos restaurantes, bares, mercados e lojinhas de regalos. Também nesta região fizemos a trilha de Puerto de Bujaruelo, um magnífico vasto vale verde, onde o vento frio sopra sem parar.


Pueblo de Ainsa  - Geoparque dos Pirineus 

Puerto de Bujaruelo


Faja de Pelay - A vinda da trilha é pela faixa ao meio das paredes à esquerda, e a volta pelo vale 


El Libro - Faja de Pelay

Cavallers - e o abrigo 1

Tanto o vale de Ordesa em Torla, como o Vale de Pineta em Bielsa possuem muitas rotas de caminhadas. É muito comum encontrar pessoas idosas, crianças e famílias caminhando e escalando pelos Pirineus, e com respeito à natureza, algo que sinto muito falta aqui no Brasil.

Mas, enfim, foi uma viagem incrível, difícil de descrever, de muita paisagem, muita escalada, humildade e aprendizado. Dias de vida simples, da vida de escalador...

Quero terminar esta história com as palavras que li no túmulo de Fernando Pessoa, em Lisboa:



Se quiser mais informações, me escreve: limalu6@hotmail.com



Namastê!






quinta-feira, 7 de março de 2013

Mulher Escaladora



De repente a escalada se torna teu estilo de vida
E todo tempo disponível é pra escalar
Todo final de semana, todo feriado, férias...
Não faz mal  andar no sol
Não faz mal pernas e braços esfolados
Não faz mal largar mão das unhas perfeitas
O importante é escalar...
É desfrutar da sensação de se mover parede acima
do medo da queda
do gosto das conquistas
Ser escaladora é amar esta vida de pouco conforto e muita paz
Ser escaladora é estar entre a mata, a montanha, as rochas, o vento, o sol, a lua
Ser escaladora é ser uma Mulher especial!


Parabéns Mulheres Escaladoras!

Um abraço especial a todas as minhas amigas...



Abaixo alguns vídeos, para se inspirar...