sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Dissertação sobre trilhas no Salto São Jorge

Ponta Grossa é uma cidade privilegiada, pois próximo ao centro urbano há vários sítios naturais com cachoeiras, piscinas naturais, fendas, trilhas e muita escalada. Nos últimos tempos, esses sítios tem sido tema de muitos trabalhos acadêmicos, como a recente dissertação de Mestrado de Geografia da UEPG da minha amiga Ana Claudia Folmann. Gentilmente, Clau preparou uma matéria sobre seu trabalho para conhecer-mos e aprender mais um pouquinho sobre estes lindos locais que nos rodeiam. Valeu Clau!





A Trilha do Salto São Jorge e o Geoturismo
Por Ana Cláudia Folmann



Quem passa a conhecer as belezas naturais do canyon do rio São Jorge logo se encanta. A vegetação é diversificada, com campos com plantas rasteiras e também floresta com as imponentes araucárias. A observação da fauna é um atrativo à parte, pois podem ser vistas várias espécies, principalmente de aves, como por exemplo, pica-pau, coruja, curucaca, gavião, andorinha, entre outros.
Mas o que chama mesmo a atenção ao percorrer a trilha que vai de encontro à cachoeira são os elementos da geodiversidade presentes no caminho. A trilha que inicia na área do estacionamento da sede da fazenda Santa Bárbara e segue até o Salto tem 788 m de extensão. É uma trilha linear, ou seja, o caminho de ida é o mesmo de volta. Geralmente leva-se uma hora e meia para ir e voltar, contando com um tempinho para fotos, mas esse tempo pode ser bem maior se houver paradas para banhos e contemplação da paisagem.
Logo no início da trilha passamos por falhas e fraturas geológicas, que nos remetem ao tempo em que ainda havia dinossauros por aqui (cerca de 120 mil anos atrás). Nessa época ocorreu o chamado Arco de Ponta Grossa, um soerguimento que trouxe à superfície rochas que estavam soterradas, gerando, entre outros, as falhas, fraturas, e também os degraus que formaram as cascatas. O som característico dessas cascatas acompanha o caminhante pela trilha adentro.





A trilha apresenta possibilidades de abordar diversos elementos didáticos, além da contemplação das paisagens no entorno.




Ainda dá para identificar, nos mirantes naturais do caminho, estratificações cruzadas do Arenito Furnas, feições e micro-feições de relevo, intemperismo químico e biológico, e o relevo ruiniforme*. Quando se inicia a descida e atinge-se o canyon, nos aproximamos da grande atração do local, o Salto São Jorge, ou Cachoeira de Santa Bárbara, como também é conhecido.



Salto São Jorge e detalhe do contato entre o Complexo Granítico Cunhaporanga e a Formação Iapó. Foto: Prieto, 2004; Folmann, 2010




Além de ser belíssimo, o salto apresenta um contato geológico raro, entre os arenitos da Formação Furnas, Formação Iapó e o Complexo Granítico Cunhaporanga. A história geológica dessas rochas vem de aproximados 600 milhões de anos, idade do Cunhaporanga. A Formação Iapó é produto da glaciação – sim, o lugar já foi coberto por gelo, e depois foi, de certa forma, fundo de mar!
Por toda essa riqueza de assuntos de interesse geológico e geomorfológico, a trilha do Salto São Jorge apresenta um enorme potencial para o geoturismo.
O geoturismo pode ser considerado o turismo relacionado às rochas, relevo, água, fósseis, arqueologia, solos, entre outros. De acordo com o pesquisador Thomas Hose, o geoturismo é “a provisão de facilidades interpretativas e serviços para promover o valor e os benefícios sociais de lugares e materiais geológicos e geomorfológicos e assegurar sua conservação, para uso de estudantes, turistas e outras pessoas com interesse recreativo ou de lazer”.
É uma ferramenta para assegurar a conservação e a sustentabilidade do local visitado, por meio da educação e interpretação ambiental. Para isso o conteúdo geológico deve ser divulgado de forma atraente.
Algumas medidas para efetivar a interpretação ambiental do local são importantes. Atualmente não há nenhum meio interpretativo, e o visitante geralmente não sabe a importância do que está diante dele, nem compreende os processos de formação da paisagem.







Declividade da trilha e propostas para pontos de interpretação




Folhetos, painéis interpretativos, ou guias de turismo preparados poderiam enriquecer muito a visita ao Salto São Jorge. Também são importantes medidas para conter os processos erosivos da trilha, que está bastante degradada. As ações do Grupo de Escalada Cidade de Pedra para recuperação da trilha são muito valiosas, pois o solo, arenoso e frágil, não pode suportar toda a visitação que tem ocorrido nos últimos anos.













Alguns pontos de interpretação espalhados ao longo da trilha enriqueceriam a visita ao Salto São Jorge




Um estudo da capacidade de carga da trilha* aponta que a mesma não deve receber mais que 120 pessoas por dia, isso se a capacidade de manejo (infra-estrutura, recursos humanos e equipamentos) estiver ok. E como esses quesitos deixam muito a desejar, o número de visitações deve ser ainda menor. A realidade é que nos fins de semana de verão pode haver cerca de 500 pessoas por dia pisoteando a trilha! O resultado disso é, no mínimo, a aceleração da erosão e a perda da qualidade da visitação.
Alguns visitantes são responsáveis e conscientes do seu impacto, mas outros, em compensação, não imaginam que podem estar degradando um ambiente tão especial. Deixam lixo espalhado, fazem barulho demais, picham as rochas, acendem fogueiras em locais impróprios... Atrapalham os animais e o sossego de quem deseja fazer uma trilha para espairecer, aprender sobre a natureza e contemplá-la.
Para mudar essa situação é urgente a aplicação de atividades educativas no geossítio Salto São Jorge e outros atrativos do Parque Nacional dos Campos Gerais. As trilhas interpretativas apresentam as vantagens de permitirem um aprendizado prazeroso, pois são eficientes meios de educação ambiental. Sabendo aproveitar o potencial da trilha do Salto São Jorge com os meios interpretativos apropriados, o geoturismo pode ser uma atividade sustentável e contribuir para a valorização da região dos Campos Gerais entre turistas e comunidade.



* Para maiores informações, consultar a dissertação da autora, denominada “Trilhas Interpretativas como instrumentos de Geoturismo e Geoconservação: Caso da Trilha do Salto São Jorge, nos Campos Gerais do Paraná”, disponível em breve na página da biblioteca da UEPG (http://www.bicen-tede.uepg.br/tde_busca/).














































































































































































































A Trilha do Salto São Jorge e o Geoturismo




























Por Ana Cláudia Folmann

































































Quem passa a conhecer as belezas naturais do canyon do rio São Jorge logo se encanta. A vegetação é diversificada, com campos com plantas rasteiras e também floresta com as imponentes araucárias. A observação da fauna é um atrativo à parte, pois podem ser vistas várias espécies, principalmente de aves, como por exemplo, pica-pau, coruja, curucaca, gavião, andorinha, entre outros.

































Mas o que chama mesmo a atenção ao percorrer a trilha que vai de encontro à cachoeira são os elementos da geodiversidade presentes no caminho. A trilha que inicia na área do estacionamento da sede da fazenda Santa Bárbara e segue até o Salto tem 788 m de extensão. É uma trilha linear, ou seja, o caminho de ida é o mesmo de volta. Geralmente leva-se uma hora e meia para ir e voltar, contando com um tempinho para fotos, mas esse tempo pode ser bem maior se houver paradas para banhos e contemplação da paisagem.

































Logo no início da trilha passamos por falhas e fraturas geológicas, que nos remetem ao tempo em que ainda havia dinossauros por aqui (cerca de 120 mil anos atrás). Nessa época ocorreu o chamado Arco de Ponta Grossa, um soerguimento que trouxe à superfície rochas que estavam soterradas, gerando, entre outros, as falhas, fraturas, e também os degraus que formaram as cascatas. O som característico dessas cascatas acompanha o caminhante pela trilha adentro.


































































































A trilha apresenta possibilidades de abordar diversos elementos didáticos, além da contemplação das paisagens no entorno.
















































































Ainda dá para identificar, nos mirantes naturais do caminho, estratificações cruzadas do Arenito Furnas, feições e micro-feições de relevo, intemperismo químico e biológico, e o relevo ruiniforme*. Quando se inicia a descida e atinge-se o canyon, nos aproximamos da grande atração do local, o Salto São Jorge, ou Cachoeira de Santa Bárbara, como também é conhecido.

































































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Salto São Jorge e detalhe do contato entre o Complexo Granítico Cunhaporanga e a Formação Iapó. Foto: Prieto, 2004; Folmann, 2010

































































Além de ser belíssimo, o salto apresenta um contato geológico raro, entre os arenitos da Formação Furnas, Formação Iapó e o Complexo Granítico Cunhaporanga. A história geológica dessas rochas vem de aproximados 600 milhões de anos, idade do Cunhaporanga. A Formação Iapó é produto da glaciação – sim, o lugar já foi coberto por gelo, e depois foi, de certa forma, fundo de mar!

































Por toda essa riqueza de assuntos de interesse geológico e geomorfológico, a trilha do Salto São Jorge apresenta um enorme potencial para o geoturismo.

































O geoturismo pode ser considerado o turismo relacionado às rochas, relevo, água, fósseis, arqueologia, solos, entre outros. De acordo com o pesquisador Thomas Hose, o geoturismo é “a provisão de facilidades interpretativas e serviços para promover o valor e os benefícios sociais de lugares e materiais geológicos e geomorfológicos e assegurar sua conservação, para uso de estudantes, turistas e outras pessoas com interesse recreativo ou de lazer”.

































É uma ferramenta para assegurar a conservação e a sustentabilidade do local visitado, por meio da educação e interpretação ambiental. Para isso o conteúdo geológico deve ser divulgado de forma atraente.

































Algumas medidas para efetivar a interpretação ambiental do local são importantes. Atualmente não há nenhum meio interpretativo, e o visitante geralmente não sabe a importância do que está diante dele, nem compreende os processos de formação da paisagem.

































































































































Declividade da trilha e propostas para pontos de interpretação

































































Folhetos, painéis interpretativos, ou guias de turismo preparados poderiam enriquecer muito a visita ao Salto São Jorge. Também são importantes medidas para conter os processos erosivos da trilha, que está bastante degradada. As ações do Grupo de Escalada Cidade de Pedra para recuperação da trilha são muito valiosas, pois o solo, arenoso e frágil, não pode suportar toda a visitação que tem ocorrido nos últimos anos.

































































































































































Alguns pontos de interpretação espalhados ao longo da trilha enriqueceriam a visita ao Salto São Jorge

































































Um estudo da capacidade de carga da trilha* aponta que a mesma não deve receber mais que 120 pessoas por dia, isso se a capacidade de manejo (infra-estrutura, recursos humanos e equipamentos) estiver ok. E como esses quesitos deixam muito a desejar, o número de visitações deve ser ainda menor. A realidade é que nos fins de semana de verão pode haver cerca de 500 pessoas por dia pisoteando a trilha! O resultado disso é, no mínimo, a aceleração da erosão e a perda da qualidade da visitação.

































Alguns visitantes são responsáveis e conscientes do seu impacto, mas outros, em compensação, não imaginam que podem estar degradando um ambiente tão especial. Deixam lixo espalhado, fazem barulho demais, picham as rochas, acendem fogueiras em locais impróprios... Atrapalham os animais e o sossego de quem deseja fazer uma trilha para espairecer, aprender sobre a natureza e contemplá-la.

































Para mudar essa situação é urgente a aplicação de atividades educativas no geossítio Salto São Jorge e outros atrativos do Parque Nacional dos Campos Gerais. As trilhas interpretativas apresentam as vantagens de permitirem um aprendizado prazeroso, pois são eficientes meios de educação ambiental. Sabendo aproveitar o potencial da trilha do Salto São Jorge com os meios interpretativos apropriados, o geoturismo pode ser uma atividade sustentável e contribuir para a valorização da região dos Campos Gerais entre turistas e comunidade.

































































* Para maiores informações, consultar a dissertação da autora, denominada “Trilhas Interpretativas como instrumentos de Geoturismo e Geoconservação: Caso da Trilha do Salto São Jorge, nos Campos Gerais do Paraná”, disponível em breve na página da biblioteca da UEPG (http://www.bicen-tede.uepg.br/tde_busca/).


































E para quem quer saber mais um pouquinho sobre o local, há uma postagem de junho e também disponível no site:

















http://vsites.unb.br/ig/sigep/sitio047/sitio047_impresso.pdf





































































































































































































































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